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O Filho de Niarbar (baseado na história de meu servidor)


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Meu servidor contará com uma extensa história, a qual foi inicialmente projetada para somente imergir o jogador nas missões. Entretanto, a ideia cresceu e se desenvolveu, dando origem a algo maior e bem-feito. Quando posteriormente eu criar o tópico revelando a verdadeira história - que não deixarei ligeiramente apresentada por conta de eu guardar planos para o gameplay - talvez vocês discordem quanto ao fato de ter originado algo grande; portanto, peço-lhes que até lá não produzam más impressões. Afinal, é como eu disse antes: guardo planos para o gameplay.

 

Enfim. Chega de papo e vamos ao conto (está simples, pois busquei alcançar uma forma de narrativa com foco na batalha e não no ambiente ou noutros detalhes). Não sou um exímio escritor e considero-me amador no ramo, pois não dedico muito tempo a isso. Escrita tais explicações, é certo dizer que considero a escrita apenas um hobby.

 

 

 

 

Era madrugada.
A Estalagem Rato Sorrateiro outrora fora agitada e de boa fama, quando em tempos passados a região não fosse temida e esquecida. O tempo passara, e o povo cada vez mais mentia, inventava histórias que, talvez, tivessem sido verdade. Mas em época como aquela tudo era fato; tudo era realidade. Os reis ficaram bobos, os lordes mais ainda e a população ouvia as palavras que os nobres diziam, pois, afinal, eles eram nobres e guardavam consigo a certeza. E isso levou a tempos tristes e de histórias feitas para fugir da mentirosa realidade que o mundo vira, despercebidamente, nascer diante de seus olhos.
Mas algumas das histórias menos conhecidas, daquelas que poucos se interessam em escutar, eram verdadeiras. Tão verdadeiras quanto o nascer e o pôr do sol todos os dias.
Era nisto que a misteriosa figura, deslizando como uma aparição pelo aposento, acreditava. Atravessou a porta num silêncio inaudível, impercebível. Somente o mínimo som dos estalos provocados pelo leve tocar dos pés descalços poderia ser escutado. E fora este tênue e insondável som que despertara o homem adormecido.
Ele não se mechou, tampouco deu sinais de que acordara. Aguardou a misteriosa figura aproximar-se e concentrou-se. Era impossível vê-la, mas era possível descrevê-la. De olhos fechados, notou o manto negro que cobria todo o corpo e o punhal escondido sob a manga.
Era suficiente. Desconcentrou e instintivamente respirou fundo e abriu os olhos, assustando a figura encapuzada e furtiva que despreocupadamente deu alguns passos para trás.
- Eu lhe encontrei. Finalmente, lhe encontrei.
O velho não respondeu. Sentou-se na cama e olhou para o canto do quarto.
- Está muito longe, não é? – perguntou a figura que, de voz doce e sedutora, revelou ser uma mulher. Seus olhos acompanhavam o do homem que por sua vez fitavam a espada embainhada ao lado do guarda-roupa. – Antes de se levantar você já estará com a garganta cortada.
Mais uma vez, o homem não respondeu.
Levou a mão para trás e, num movimento ameaçador, fez a mulher sacar o punhal e atirar-se sobre a cama, embora cuidadosamente ágil.
O homem jogou-se para o lado no momento em que a figura negra pousou na cama e rasgou o colchão, tendo tempo para se levantar e correr na direção da espada. A mulher tinha movimentos fluídos e ágeis, entretanto, como sabia o homem, ela pensasse estar na presença de um oponente muito inferior.
Ela retirou o punhal da cama e, ao virar-se na direção do guarda-roupa, lançou-o como uma faca de atirar, tão rápido que mal se pôde perceber o braço indo e voltando. O homem foi capaz de notar a ação e saltou no chão, caindo aos pés da lâmina embainhada. Puxou-a para perto, desembainhou a espada e largou a capa no chão, colocando-se de pé. A lâmina brilhante sibilou no ar e por um momento a mulher distraiu-se. A assassina tinha agora um segundo punhal em mãos, o qual não fora detectado pelo homem quando ela sorrateiramente entrara no quarto. Ela agitou o braço esquerdo e o capuz soltou-se, revelando uma armadura de couro batido que a maioria dos homens julgaria inapropriada para uma moça.
Ainda com o capuz em mãos, ela ergueu o braço e balançou-o, largando-o. A roupa rodopiou no ar e a mulher circulou-o numa velocidade que, por pouco, não deteve a defesa distraída do homem. As lâminas se tocaram e o tilintar metálico ressoou pela estalagem, enquanto ambas deslizavam-se obliquamente uma na outra. O punhal era relativamente menor e a mulher obrigatoriamente arriscou esquivar-se impulsionando para frente e saltando para o lado. Mas fora um erro.
O homem percebeu a força imposta pelo impulso e, quando conseguiu detê-la, dobrou os joelhos e chutou num movimento curto e contido, que derrubou a moça e a fez largar a arma. Ela gritou de raiva e rapidamente levantou-se num pulo, de olhos cravados no punhal. Tentou pegá-lo, mas o homem foi mais rápido. Fluidamente, ele deu uma estocada com a ponta da espada e certeiro atingiu a virilha da jovem, que gemeu de dor e cambaleou na direção da janela. Ainda de pé, ela recostou-se no vidro e apontou o punhal que resgatara por pouco na direção do rosto do velho.
- Como isso é possível? Parece ser velho e devagar... Mas é tão rápido quanto eu.
Ele mais uma vez não deu ouvido. Apenas encarou-a, de olhos negros e vazios, que agora pareciam verdadeiramente assustadores. Ele ergueu a espada, apontou-a para a jovem e segurou o cabo com as duas mãos. A moça respirou fundo.
Quando ele iniciou a curta corrida, a mulher agarrou com ambas as mãos o punhal e posicionou-o entre os peitos, numa vã tentativa de bloquear o ataque fatal que vinha lhe acertar.
Milagrosamente, a segunda estocada viera com menos impulso e o pequeno punhal a bloqueara, no entanto a força destruíra a janela e jogara os dois oponentes no monte macio de neve que os aguardava há sete metros de distância.
Quando atingiram o térreo, a mulher gritou e o homem afundou-se na terra, aplicando todo o peso do corpo sobre sua perna esquerda. Ele berrou e deitou-se de frente, esticando a cabeça com dificuldade para ver com clareza o estado de seu ferimento. Não havia nada exposto e não era tão grave quanto o ferimento na virilha da jovem, que tinha se levantando e cambaleava gemendo na direção da floresta.
O homem também se pôs de pé, mas seguiu a mulher andando. Não queria prejudicar-se mais ainda forçando para correr.
Ela enfiou-se no meio de duas árvores e adentrou uma cabana de pele, provavelmente armada por ela própria. O homem encaminhou-se calmamente pela trilha coberta de neve, enquanto começava a ter dificuldades até mesmo para carregar a espada. Quando chegou à floresta e olhou adiante para dentro da cabana, viu a mulher terminar de armar uma grande besta e apontá-la para ele.
- Fim da linha, desgraçado. Já viveu demais. Está na hora de morrer. Ao menos, morra com honra: com um dardo fincado em seu peito, assim como morreram seus antepassados – ela posicionou o dedo no gatilho. O homem apertou a empunhadura da espada.
A jovem gargalhou e ajoelhou-se, apoiando-se numa mesa tombada e encurvando-se. O dardo mirava bem no peito do homem, que continuara aproximando-se da cabana. Ela endureceu o corpo e preparou-se para atirar.
As corujas cessaram os pios e o silêncio foi absoluto.
A corda estremeceu. O homem ergueu a espada. Ouviu-se um agudo som de metais se chocando. O dardo desviou-se da rota original e rodopiou, acertando um tronco de árvore.
A mulher arregalou os olhos.
- Desviou... Desviou do dardo...
O homem fechou os olhos e respirou fundo, enquanto a moça observava-o, sem reação. Quando as pálpebras tornaram a se abrir, as pupilas estavam tão vermelhas quanto sangue. Ele caminhou na direção da cabana, apertando o cabo da espada com toda sua força.
- Por favor, deixe-me ir. Desculpe-me... – ela soltou a besta e engatinhou até o canto da cabana. Não era mais um homem de aparência velha; era agora uma figura soberana, de olhos tão assustadores que até mesmo o mais feroz dos reis não ousaria encarar. – Desculpe-me por duvidar...
- Duvidar? – perguntou o velho.
A jovem engoliu em seco.
-... De sua existência...
Luzes piscaram nas costas do homem. Na porta da estalagem uma multidão de pessoas o observava, empunhando tochas e inchadas. Quando notaram os olhos vermelhos destacados no escuro, imediatamente apertaram o passo, enquanto um deles gritou:
- Saia de perto da garota! Aqui você não vai matar ninguém! Não na minha estalagem, demônio maldito!
O velho olhou para a garota, com uma expressão indescritível; um misto entre raiva, ódio e preocupação.
- Parece que o filho de Niarbar não é só um boato, afinal... Você foi descoberto, e junto com você a prova de que os Ern-fáelad estão entre nós.
A perna estava quebrada. A luva encharcada de sangue rubro. Ele não conseguiria correr daquelas pessoas. Decerto, não conseguiria. A menos que...
Fechou os olhos. A mão acendeu e um brilho ardente e dourado expandiu-se por toda extensão da perna, cobrindo-a de misticismo, magia ou fosse lá o que mais – o que ali acontecia era coisa de lendas.
- Eu sou o filho de Niarbar, e assumo-o como homem, não como demônio. Conte a reis, lordes ou exorcistas, mas não creio que algum deles encontrará coragem suficiente para me enfrentar. Meus olhos são como a fúria do demônio e a noite é quando minha força desperta; somente nela eu aparecerei diante de homens comuns.
Os olhos brilharam intensamente na forma mais sanguinária até que, num rugido de dor, o filho do Ern-fáelad fincou a espada no chão e apoiou-se. O ferimento estava curado.
A moça encolheu-se mais ainda e escondeu o rosto com as palmas da mão. O homem, sem pretensão de cruzar caminho com os camponeses, de imediato e empunhou a espada e retirou-a do chão, atirando neve nos utensílios presentes na cabana.
Ao virar-se para trás, notou os homens aproximando-se numa freqüência que aumentava cada vez mais. Não perdeu tempo. Segurou a espada numa posição para torná-la fácil de carregar e disparou colina acima, correndo com velocidade e agilidade incrivelmente impressionantes para a quantidade de neve que recobria a encosta da subida.
No meio da espessa névoa da noite, o filho de Niarbar desapareceu, e a moça aprendeu que nunca se deve mexer nem com as menos proferidas histórias. Ela despertara a fúria de um demônio e alertara os reis sobre sua existência. Alguns acreditariam, outros não; mas apenas o tempo contaria a verdade que, como sempre, era inevitável.
Os Ern-fáelad eram reais.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Assassin's Creed? Fico feliz por tê-lo dito; apesar de eu nunca ter aberto nenhum dos livros - e jogado apenas três jogos - eu considerarei suas palavras um elogio.

 

No mais, obrigado.

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Bem bacana!

A luta descrita esta muito bem bolada e os detalhes deixaram seu conto agradável de se ler.
O único trecho que não me agradou foi:

" Era nisto que a misteriosa figura, deslizando como uma aparição pelo aposento, acreditava. Atravessou a porta num silêncio inaudível, impercebível. Somente o mínimo som dos estalos provocados pelo leve tocar dos pés descalços poderia ser escutado. E fora este tênue e insondável som que despertara o homem adormecido."

Na minha opinião, você utilizou um adjetivo desnecessário, pode-se dizer até errôneo após trecho " Atravessou a porta num silêncio... - inaudível. ", já que o sinônimo de silêncio é: Algo que não se pode ouvir, o mesmo pode-se dizer de "inaudível". E logo abaixo você entra em contradição, quando diz haver um mínimo som dos "estalos provocados", e que foi esse som que despertara o homem - mas não leve essa minha ultima observação ao pé da letra, já que se trata de um demônio.

Enfim, a coesão do seu conto está ótimo, realmente muito bom se tratando de "apenas um hobby".
Meus parabéns e continue assim!

Abraços, Avilack.

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Realmente, foi bastante idiota de minha parte ter dito "inaudível". Obrigado por dizê-lo, irei corrigir o quão breve. E sim, ele é um 'demônio' e por isso seus sentidos são mais aguçados; manterei então o "impercebível".

 

Obrigado pelo comentário e elogio.

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